No
filme “Brilho eterno de uma mente sem lembrança”, uma empresa cria um sistema
para fazer que você esqueça parte de sua vida, como se ela nunca tivesse
existido, quem não gostaria de fazer isso pelo menos uma vez na vida?! . Apagar algo ou alguém de sua memória é algo difícil e quando há o
mínimo de afinidade se torna ainda mais doloroso. Permita-se esquecer, pense
que você já tomou o remédio, trate sua vida como se fosse o último dia e o amanhã será um belo presente para você.
Toda
historia começa com uma leve descrição de todo o local e ambiente, bem vamos antecipar, vou dizer o que ela causa: Felicidade e Decepção.
Primeiros
dias do ano, como em todo país tropical o clima estava quente e o céu com um azul de
dar inveja a qualquer pintor que busca a cor mais vívida pra desenhar seu
quadro. Considerando que hoje é um dia de sábado, as pessoas em sua grande
maioria estavam de folga, cada um procurando se divertir com suas roupas mais
leves, shorts e camisetas de cores claras para não derreter com tanto sol. Suas
peles ainda mudando de cor e a cada dia ficando mais escuras, na cor do verão.
Aquela
cidade era próxima ao mar, uma capital com cara de interior, um grande calçadão
onde passavam pessoas correndo, crianças e jovens andando de patins, gente
idosa se exercitando e pessoas caminhando na praia, com um sorriso em um
cansaço de felicidade. A noite cai suave, quase imperceptível, o céu ficava
negro devagar e pequenos pontos brancos apareciam um a um, era possível ver uma
lua tímida em seu formato crescente, aquela noite era perfeita para um passeio
e foi isso que aquele jovem fez.
Ele
não era alguém que chamasse atenção logo de primeira, altura média, cabelos
curtos e cacheados, não tinha um corpo atlético, mas tinha os olhos claros e um
tanto sérios. Naquela noite ele decidiu que não ia ficar em casa, se lembrando das coisas que acabaram de acontecer, sua vida estava conturbada e sua cabeça não conseguia pensar uma coisa somente, mas em todas
que ele poderia tentar acertar. Aquele calor pedia uma bebida e distração, ele
vestiu sua roupa mais simples, uma bermuda, camiseta larga e tênis, não queria
chamar atenção, pois aquela noite seria para apenas observar e não ser
observado.
Quando
chegou escolheu um ponto movimentado, um pequeno bar a
beira da praia onde tocava uma música animada e tinha bastante gente diferente de
todas as idades. O jovem sentou em uma mesa pequena, no canto do bar, onde ele
poderia olhar toda a movimentação do local, quem entrava, quem saía, as pessoas
conversando, os amigos bebendo e rindo, a banda tocando, os namorados abraçados
e as pessoas dançando. Uma brisa agradável passava por ele não fazia tanto
calor assim, mas ele pediu uma bebida gelada e algo para comer. Aquela alegria
e movimentação fez ele se distanciar um pouco de tudo que atormentava sua
cabeça naqueles dias, aos poucos ele foi entrando na vida de cada pessoa ali,
olhando como os amigos ficavam felizes a cada copo de cerveja, como a banda
tocava mais animada vendo que mais pessoas levantavam e iam pro salão até mesmo
uma briga de casal, daquelas silenciosas quando os dois não querem gritar, mas
agem como estranhos deixando qualquer observador desconfortável ou ate mesmo
dando vontade de ir lá dizer “Parem com isso, olha essa noite, olha o quanto
vocês se amam, esqueçam isso e vão ser felizes.”, mas como observador, você
deve apenas olhar e deixar tudo acontecer.
Quase
no final de sua bebida, o garçom pergunta se ele aceita outra bebida, ele
apenas consente com a cabeça. Quando ele levanta a cabeça e olha para entrada
do bar, vê uma menina entrando com mais três outras, a diferença é que ela
chamava mais atenção, não era muito alta, sua pele morena que combinava
perfeitamente com o vestido branco longo que ela usava, daqueles vestido finos
estilo romano que deixava algumas formas do seu corpo a mostra, mas eram apenas olhares de
admiração. As garotas pareciam que já freqüentavam aquele lugar há um tempo,
cumprimentavam os garçons e algumas pessoas com um sorriso e eram respondidas
com carinho. Muitos olhares ficaram fixados na garota de branco, alguns até que
deveriam estar fixados em outro lugar, como o rapaz do casal que brigava. Elas
foram para uma mesa que ficava perto da banda, mas a uma distância onde elas
poderiam conversar. Pediram uma bebida, o grupo de amigos que já estavam
bêbados, se animaram e começaram a conversar como se estivesse planejando se
aproximar delas, criando coragem pra a investida.
O
rapaz por sua vez acabava sua primeira bebida enquanto o garçom chegou com a
segunda, ele perguntou sobre as moças interessantes que acabaram de chegar, o
garçom respondeu que são freqüentadoras do local há tempo, ótimas pessoas que
sempre se divertem e nunca saem acompanhadas. Uma música animada começou a
tocar do tipo que faria os pés mexerem sem que você perceba, aquele som
agradável fez a garota de vestido branco levantar e ir para pista de dança, o
calor não intimidou ela a se mexer, todos próximos da mesa dela começaram a
olhar quando ela se levantou, deu pra ver o contorno em sua cintura quando o
vestido caia sobre sua pele morena, seus cabelos longos mexiam com ela de um
lado para o outro, acompanhando o ritmo da dança.
O
rapaz em sua mesa ficou hipnotizado, parecia uma dança
em câmera lenta, ela mexia seus braços e quadril como se sentisse o movimento
da brisa, cada vez que ela virava, dava pra ver suas pernas grosas que ela
deixava a mostra quando segurava saia e levantava para não pisar nela. Quando
ela mexia seu pescoço em todas as direções em certo momento ela olhou diretamente
para o jovem na mesa do fundo, quando isso aconteceu, ele engoliu a seco sua
bebida, aquele olhar foi como se sua alma pegasse fogo, só tinha sentido aquilo
uma vez na vida, só que dessa vez o olhar era mais seguro.
Ele
acompanhou sua dança hipnotizante até o final, às vezes ela o encarava, mas ela
estava mais preocupada em se divertir e era isso que ela fazia naquele momento.
No meio da noite, ele não sabia se era a bebida, mas ele levantou e foi até a
mesa da menina, tocou em seus ombros morenos e perguntou se ela não queria
dançar com ele. Ela olhou para trás e respondeu que sim, que adoraria dançar
com ele. Quando ela se levantou, segurou a mão dele e puxou para a pista de
dança, perguntou seu nome e falou o dela, ele sentiu um calor percorrer seu
corpo como se fosse a primeira vez que tocassem suas mãos, todo bar olhou
impressionado com a coragem daquele rapaz. Ele disse meio sem graça que não
sabia dançar, ela pegou sua mão e disse “coloque ela aqui, na minha cintura”,
no mesmo momento ele travou, mas fez o que ela pediu. A dança começou, eles
dançaram, giravam e mexiam-se de forma leve e animada, os dois riam de seus
erros, o sorriso dela era algo que fazia você ficar feliz só de olhar, sua boca
carnuda e vermelha de batom e seus olhos pequenos que pareciam menores quando ela sorria. No meio da
segunda dança ela perguntou por que ele tinha demorado tanto pra chamá-la pra
dançar, ele não respondeu nada por um instante e pisou no pé dela sem querer.
Algumas
músicas tocaram, eles sentaram-se à mesa em que o rapaz estava, conversaram por
horas tomando um drinque e outro. Quando foram embora o dia estava amanhecendo,
ele ofereceu uma carona e pra surpresa deles, os dois moravam muito perto e
nunca se viram antes. Quando chegaram ao prédio dela, um prédio não tão novo
que ficava em uma esquina, de cores neutras puxadas para o azul e o portão de
ferro cinza. Ele deu um bom dia pra ela e pediu que a visse de novo, ela
respondeu “Agora você sabe onde eu moro, venha me ver quando quiser apartamento
403”. Logo em seguida ela deu um beijo em seu rosto e entrou sorrindo pelo portão,
seus cabelos dançavam, não era um cabelo naturalmente liso, mas tinha uma
beleza chamativa.
A
partir desse ponto, a história toma um rumo diferente, seis meses de suas vidas
se passaram, sonhos foram montados, eles foram felizes, viram sua vida
crescendo a cada dia, tudo fazia sentido, por que sua vida existia, por que
tinham nascido. Mas infelizmente, tudo pode mudar com algumas palavras e
descobertas. A garota dos seus sonhos tinha uma história no passado que nunca
foi resolvida e apesar do amor que ela sentia por ele, em apenas 6 meses ela
ainda pensava em um amor do passado. Ele descobriu que sua vida não era
completa, que seus fantasmas do passado faziam dele uma pessoa vulnerável, ela
não conseguia mais pensar em dois amores, não confiava mais no cara que
conheceu na pista de dança. E não entendia que todos têm um passado e que às
vezes devemos passar por cima e esquecer. Ele descobriu seu amor do passado e
se decepcionou com aquilo tudo. No começo ele não quis aceitar, mas percebeu
que ele deveria se gostar mais e fazer aquilo que lhe fazia sorrir, e isso não
acontecia mais com ele.
As
horas e dias passam e as pessoas diziam que esquecer é a melhor coisa a se
fazer depois de uma bela decepção, seja na vida, no amor, no trabalho, na
escola/faculdade ou até mesmo na família. Cada pessoa tem um aprendizado
diferente em cada situação e normalmente sempre buscam encontrar um meio de
sair de cabeça erguida. Não há nada que tempo não cure certo? Pode até ser verdade,
mas vale a pena perder seu tempo tentando curar algo que precisa existir?
Um
belo dia ele viu no jornal que existe uma droga que fazia com que a pessoa bloqueasse
as lembranças ruins de sua memória o nome é “Metirapona”, essa droga prometia
fazer você “esquecer’ as coisas ruins de sua vida, aquilo que impactou sua vida
de forma negativa. Depois de tentar buscar o lado positivo das coisas, ele
decide tomar essa pílula, mas antes ele tinha de se desfazer de tudo que era
dela, suas lembranças físicas, seus amigos, suas roupas, suas fotos enfim sua
vida juntos. Ele preparou uma caixa grande e colocou tudo dentro, guardou em um
cofre e jogou a chave fora, nesse dia ele foi ao médico, tomou seu remédio e
continuou sua vida aos poucos ele não via mais ela passando pela rua, não via
seu sorriso nas coisas mais bonitas, não se lembrava dela quando o vento
balançava algumas árvores, não sentia seu perfume pelos corredores.
Em uma
noite de domingo ele foi ate a rua e lembrou-se de um bar onde ele ia as vezes.
Um pequeno bar a beira da praia onde tocava uma música e tinha bastante gente
diferente e de todas as idades. O jovem sentou numa mesa pequena, no canto do
bar, onde ele poderia olhar toda a movimentação do local, quem entrava, quem saía,
as pessoas conversando, os amigos bebendo e rindo, a banda tocando, os namorados
abraçados e as pessoas dançando.
Até
que uma bela moça chegou com suas amigas, ele permaneceu em sua mesa ficou
hipnotizado com os seus movimentos, parecia uma dança em câmera lenta. Ela o
olhava como se o conhecesse, mas ele só estava interessado em passar o tempo.
Texto: Luiz Paulo Marçal
Revisão: Pamela Nantes
Maravilhoso! Sem mais palavras..
ResponderExcluir"Você tem que perceber que nem sempre pode continuar com as coisas, é preciso deixá-las ir.” Penso que se adequaria perfeitamente nesse tempo relatado aí. Muito bom !
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