OI pra você que leu a primeira estória que escrevi.
Hoje apresentarei outro conto pra vocês, uma ficção tem como base duas músicas do músico e compositor Chico Buarque, “Olhos nos Olhos” e “A mais Bonita”. Após ver uma pequena parte do documentário, lançado em 2005, sobre a trajetória de Chico desde 1960. Meu dedo ficou coçando para escrever algo sobre o que essas músicas contam.
Toda música tem um certo poder educativo; para o leitor que gosta, vale a pena ter em casa os dvd´s com o documentário de nome “Chico Buarque a Serie”. Se não conhece muito sobre Chico, corre na locadora perto da sua casa e aluga, depois me conta se você não se apaixonou pela descrição da natureza humana de forma tão vivida e realista. Ah! Tem um filme,também, chamado “Budapeste” que foi baseado em um livro homônimo.
Aproveite a narrativa.
Seja
Feliz e Passar bem
Mês
de Maio. Estamos em pleno outono e as ruas de asfalto preto estavam repletas de
folhas de várias cores, algumas amarelas, outras verdes, mas muitas com uma cor
desbotada. Apesar do frio o sol iluminava, usando o máximo de sua força, naquela
ruazinha cheia de casas coloridas no estilo colonial, com cercas vivas
crescendo, com árvores por todo seguimento, quase que em frente a cada casa, o
que dava a rua um ar aconchegante e familiar.
Quase no fim da rua, na penúltima casa para
ser exato, com um gramado que ia da calçada até a escadinha da varanda, onde
havia um jardim com uma pequena casa de cachorro, o mascote da família; um balanço de madeira
vermelho com uma caixa de areia em baixo. A casa tinha dois andares, a frente e
as laterais eram douradas, no segundo andar ficavam os quartos com grandes
janelas viradas para rua.
Neste
lugar morava ELA com seus 26 anos de idade, um metro e setenta de altura,
cabelos pretos com cachos cheios, olhos castanhos, quase mel, com pontinhos coloridos.
Corpo magro, porém, com belas curvas; sua pele branca combinava bem com o
contraste do seus lábios carnudos e vermelhos que pareciam estar em carne viva.
Estava acabando sua faculdade de Biologia, sua paixão, era professora
substituta de seus professores na faculdade e dava algumas aulas particulares
para alunos do segundo grau.
A
direita de sua casa morava uma senhora de uns 70 anos, vivia sozinha com seus
três gatos e dois cachorros que ela tratava como filhos, passava o dia
conversando e alimentando-os. Apesar de seus cabelos brancos ela não aparentava
a idade que tinha, mas olhando sua postura e jeito de falar deixava claro que
ela já havia vivido muita coisa e sua sabedoria era grande. Na casa da esquerda
morava um casal recém-casado. Todo dia pela manhã ELA ia até a janela olhar o
marido, que sempre se despedia da mulher com um abraço demorado e um beijo
carinhoso.
-
Logo será minha vez de ser feliz assim. – disse ELA com sorriso e seu rosto
ficou vermelho.
ELA
namorava há dois anos e estava a um ano e meio noiva do seu rapaz perfeito
- tinha 1,80 de altura, magro, com corpo
bem trabalhado, educado, simpático. Era médico e trabalhava em um grande
hospital da cidade. Toda vez que as pessoas viam os dois juntos, diziam que
podiam ver a felicidade nos olhos de ambos e que eles seriam felizes para
sempre com uma família cheia de amor e carinho.
No
dia em que ELE á pediu em casamento deu a ELA um apartamento no centro da
cidade, como presente de casamento adiantando e disse olhando no fundo dos seus
olhos:
-
Eu quero morar em lugar “cheio” de você, com seu toque e seu cheiro em cada
pedaço da casa. Quero poder sentir você, mesmo quando não estiver em casa. –
disse ELE em seu ouvido depois de envolver-la com seus braços grandes e
protetores.
Cada
vez que ELE á abraçava ela sentia como se o chão não existisse, em qualquer
lugar que isso acontecesse, mesmo que fosse em um local com milhares de
pessoas, era como que o segundo parasse e ela só ouvisse a sua voz e som dos
beijos apaixonados. A sensação que ela tinha quando suas bocas se tocavam era
que seu coração parava um instante, como se o sangue perdesse o rumo dentro de
corpo, confuso na emoção. Suas pernas ficavam moles quando ELE a puxava pra
perto segurando sua nuca com uma das mãos e com a outra suavemente segurava em
sua cintura.
Faltando apenas duas semanas para sonhado
casamento, ELA estava em seu quarto de janelas grandes, com um interior
tipicamente de meninas, armários com várias bonecas que ela ganhara quando
criança. No outro canto da parede uma estante recheada de livros, uma cama de
solteiro no meio do quarto com um edredom bastante confortável na sua cor
preferida ,o verde; uma escrivaninha, onde estava seu computador com algumas
páginas de pesquisa abertas e uma mensagem de sua amiga pra que não esquecesse
da sua festa de formatura naquela noite.
As
cortinas estavam parcialmente fechadas, mas um pouco da luz de fim do dia ainda
passava pela janela, ela estava se preparando para um bom banho antes do
tradicional “momento de mulher”, escolher a maquiagem, ela mesma preferia
arrumar seus cabelos, adorava seus cachos, qualquer penteado ficava perfeito
naqueles cabelos pretos cheios e longos. Naquele momento seu telefone tocou e a
imagem que apareceu era de seu noivo e junto um toque uma música que
significava muito para os dois. Ela que já estava no banheiro, voltou correndo
e deu pulo na cama no mesmo momento que pegava o telefone no criado-mudo, onde
ficava um abajur e seu despertador antigo.
-
Oi amor, eu estava indo tomar um banho antes da festa de formatura. Mas pode
dizer, ainda tenho tempo – disse ela com sua voz doce.
-
Será que posso passar na sua casa antes de você sair? – Perguntou ELE com uma
voz pesada.
-
Claro, mas você ta bem? Sua voz esta um pouco estranha, aconteceu alguma coisa
com sua mãe?
A
mãe dele era uma jovem senhora que sofria de transtornos psicologicos, tinha
seus altos e baixos, a ponto de preocupar até mesmo seu psiquiatra.
-
Não, não. Mamãe tá ótima. Preciso somente conversar com você URGENTE! – Disse
ele dando ênfase na última parte e um sorriso sem graça.
ELA
já que estava se levantando, sentou na cama e continuou:
-
Tudo bem, eu vou tomar o meu banho quanto você chega. Te amo coração.
ELE
desligou sem mesmo dizer tchau. ELA desligou o telefone e olhou para o
computador ainda com a mensagem da sua amiga sobre a festa e pensa o que
poderia ter acontecido para ele ficar assim tão sério, do nada. Tentou lembrar
das últimas semanas, últimas conversas, nada vinha em sua cabeça. Então, ELA
levantou e pensou “Ah não deve ser nada, vou tentar pensar em algo bom, ele
deve ta querendo brincar comigo”. Levantou da cama e foi correndo para seu
banho relaxante e dar tempo de pelo menos ajeitar seu cabelo e uma maquiagem
leve antes que seu príncipe chegue.
Quando
saiu do banheiro, enrolada na toalha, ELE estava sentando na cama, com um rosto
triste e a batido, mexendo em seu telefone. ELA surpresa, andou rápido e deu um
abraço forte nele, mas não recebeu reação em troca.
-
Temos de conversar – Disse ELE de forma seca e rápida.
-
Tá bem amor, deixa só eu ...
ELE
se levantou da cama, colocou o celular no bolso e foi andando até a janela de
um jeito nervoso e sem se preocupar com o que ela ai dizer.
-
Eu não sei como dizer isso, já pensei mil e uma formas. A verdade que, já estou
cansado de tudo isso, estou me sentido pesado com todo nosso relacionamento,
não me sinto mais feliz, não tenho vontade de sorrir, de sair com você e seus
amigos de te entender. Por mais que isso seja algo idiota de dizer, mas o
problema sou eu.
Cada
palavra que seu amado dizia, era com uma faca entrando em seu peito, suas
pernas e seu corpo foram curvando-se até ela sentar em seu “puf” de cor azul
que ficava do lado da cama.
- Aonde você quer chegar com isso? Sei que
temos nossos problemas, como qualquer outro casal, mais nos amamos isso que
importa – disse ELA com a cabeça baixa e o rosto incrédulo.
-
Tenho outra pessoa – disse ELE ainda olhando pela janela. Algumas crianças
andavam de bicicleta pela rua.
-
Você o que? Você disse que tem outra pessoa? Desde quando isso aconteceu? Não
posso acreditar no que estou ouvindo, minha vida sempre foi sua. Como você tem
a coragem de me trair assim dessa maneira, e me dizer “te amo” todos os dias. –
Sua voz saia com uma força incrível para seu pequeno tamanho.
ELE
andou rapidamente em sua direção, ajoelhou a sua frente segurou seus ombros de
forma que ELA o encarasse, seus olhos estavam vermelhos e cheios de água. ELE
falou com ELA em voz calma.
-
Eu te amei, mais que a mim mesmo durante todos esses anos, mas tudo se tornou
um peso, não quero te ver sofrer, mas queria que você soubesse por mim que
estou amando outra pessoa. Ela tem sido tudo aquilo que você deixou de ser para
mim. Não vou pedir que não me odeie, por que eu mesmo já estou me odiando por
dizer isso com tanta frieza. Vou embora, não quero piorar mais ainda o jeito
que você está.
ELE
se levantou, olhou-a sentada, a luz de um carro passa pela janela, e reflete na
parede a sombra de dois seres de cabeça baixa, uma sombra escura e sem vida.
-
Espero que você me entenda um dia, seja feliz e passar bem.
Autor: Luiz Paulo Marçal - 20/02/2011
Revisão: Lorrany Martins